
*imagem extraída do site Observador.pt – livro “Unlikely Friends”
Nestes tempos difíceis pelos quais passamos alguns valores ganham vulto e mais destaque do que o normal, mesmo com o turbilhão de sensações e a liberdade quase ilimitada que as redes sociais oferecem.
Dentre vários que poderiam ser citados, um desponta como o mais importante em todos os setores da vida: a amizade.
Intrínseca à natureza gregária do ser humano, a amizade ganha, a cada dia, contornos de um bem infinitamente valioso, sobretudo em momentos difíceis, pelos quais nenhuma pessoa deixa de passar.
O interessante desse contexto é que mesmo no seio familiar, onde naturalmente há um apego e grande sentido de proteção mútua entre os parentes, percebe-se, não raro, que nem sempre existe a amizade.
Ela, a amizade, extrapola laços carnais e sanguíneos, forjando outros, muito mais duradouros e fortes, que servem de sustentáculo para a vida.
Quem nunca ouviu alguém dizer que tem laços mais fortes com amigos do que com parentes? Qual a razão disso?
Uma das explicações está no fato de que no seio familiar temos vínculos obrigatórios que antecedem a nossa vontade, enquanto que, para formar amigos, entram em cena as afinidades e uma cumplicidade espontânea.
Seja no erro ou no acerto, a amizade é um dos frutos sagrados do livre arbítrio. Não escolhemos nossos parentes mas, sim, os nossos amigos.
Somos atraídos pelos sentimentos, princípios e comportamento comum como um grande ímã, e nesse ponto podemos observar um aspecto grandioso do ser humano, que é o contínuo desvelar de novos mistérios e universos, dentre os quais o do próprio ser.
Cada ser humano é um universo em si, pronto para ser estudado e compreendido, e a amizade é o caminho mais seguro para realizar esse estudo e descobertas.
É uma forma do ser humano entender, em definitivo, que ninguém está sozinho no mundo, ou que veio a ele para dessa forma permanecer. Sempre haverá alguém com quem poderemos chorar, rir, discutir sobre a vida ou, simplesmente, estar na companhia sentindo-se bem.
A humanidade periodicamente se depara com imensos desafios, proporcionados por problemas de convivência ou motivados por forças da natureza.
Em momentos sombrios, a exemplo do que vivenciamos, por conta da pandemia que ceifa vidas a cada instante, a existência da amizade emerge como uma tábua de salvação, um alicerce sólido para que a nossa edificação interior não pereça em ruínas.
O congraçamento em horas alegres, e a solidariedade e o acolhimento em momentos difíceis compõem a diferença entre viver a vida ou, simplesmente, passar por ela.
De nada adianta, em certas situações, o conhecimento acumulado ou a riqueza ostentada; até mesmo o convívio familiar, com suas naturais convenções, não consegue alcançar a leveza e profundidade que a amizade proporciona, pois esta não obedece, necessariamente, convenção alguma.
Em um mundo globalizado, no qual a informação e o conhecimento são extremamente valorizados, em razão da própria complexidade da vida, ter amigos é imprescindível para suportar o peso das exigências sociais em todas as suas formas.
Fazer amizades e, sobretudo, saber mantê-las, é uma arte que põe à prova todas as nossas imperfeições, nos lapidando silenciosamente para o convívio social.
Ter amigos leais é, sem sobra de dúvida, a maior riqueza que podemos adquirir nesta vida; uma riqueza que nos acompanhará e nos perpetuará na eternidade, seja pela lembrança carinhosa quando partirmos, ou no trato despretensioso e fraterno dos que nos cercam.
Cultuar amizades é um ato de fé na vida e, ao mesmo tempo, uma demonstração de amor por nós mesmos. Façamos amigos!
Meu Ir Vieira que belo texto! Parabéns!
Obrigado!