O crescimento da candidata de direita Marine Le Pen nas pesquisas para a eleição presidencial na França demonstram um esgotamento do modelo da própria União Europeia.
É certo que muitos países, principalmente após a eclosão da guerra na Ucrânia, têm repensado alguns valores exigidos para o sistema de convivência comum na Europa, valorizando muito mais os nacionais do que cidadãos de países componentes do grupo ou, ainda, exilados ou imigrantes de outras partes do mundo.
Isso ocorre porque há um sentimento comum sobre a necessidade de retorno aos valores nacionais, em detrimento daqueles comuns a todos no continente. Dentro dessa ótica, Marine Le Pen, faz uso do nacionalismo francês como alicerce e também propulsão de sua candidatura, pregando o maior cuidado com o cidadão francês, principalmente quanto a sua educação, emprego, moradia e direitos sociais.
Nada mais justo, senão pelo fato do viés altamente xenófobo e até racista apontado por vários franceses, em uma clara remissão ao pai de Marine, Jean Marie Le Pen, radical de direita que por anos tentou ser presidente da França. Marine é a herdeira de seu legado, e para chegar tão perto do resultado pretendido empreendeu mudanças na forma de exposição de suas propostas, se tornando atraente para parcela significativa do eleitorado francês.
Com o mundo em crise por conta dos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia, as ideias de preservação de valores nacionais estão em alta, gerando grandes expectativas para países que sempre se debateram com questões como a imigração e declínio da qualidade de vida dos nacionais, como é o caso da França.
Marine Le Pen sabe disso e tem explorado muito bem esse viés, se aproximando da população que se sente prejudicada pelas políticas de auxílio a estrangeiros, o que retira recursos da políticas públicas antes destinadas aos franceses. Se eleita, Mariae terá força suficiente para fortalecer substancialmente esse sentimento em toda a Europa, que tenderá a mudar ou até a abolir os atuais termos da União Europeia.
Coube a Emmanuel Macron, até o momento, demonstrar que é possível preservar a cultura francesa, os empregos, moradias e assistência social, sem abandonar os fundamentos da União Europeia ou adotar posturas xenófobas para a autopreservação. Resta saber se a população assimilou seus argumentos e se convenceu deles.
Neste domingo (24/04), após a votação, o mundo saberá quem compartilha do pensamento majoritário do povo francês, se é Marine Le Pen, ou Emmanuel Macron, que busca o segundo mandato.
De qualquer sorte, a governabilidade estará afetada para o próximo presidente, pois haverá dura e consolidada oposição ao vencedor.
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